10.8.06

Em Cuba, no pasa nada.

Eis que subitamente, a grande maioria das opiniões considera que estamos a assistir ao fim da era de Fidel Castro à frente de Cuba.
Claro que não estamos, mas já lá chegamos.
Praticamente desde que chegou ao poder, Fidel Castro, a face visível do regime cubano, e o seu lugar-tenente temporário, Che Guevara, tornaram-se ícones da cultura pop contemporânea. O já falecido deu um grande impulso à indústria da moda, o que ainda é vivo tem legiões de admiradores e de odiadores [eu sei que a palavra não existe mas apeteceu-me escrevê-la].
E que fizeram para isso? Limitaram-se a ser fotografados e entrevistados quando faziam parte da oposição armada ao regime de Fulgêncio Batista que seria por eles derrubado em 1959, foi tudo. O que bastou foi uma farda militar, uma barba e umas palavras sobre luta armada e injustiça. O alinhamento com a União Soviética, as execuções sumárias, a instalação de mísseis nucleares, as restrições à liberdade de expressão, o regime de partido único, as detenções por motivos políticos, as carências de bens alimentares e a ausência de liberdade de associação foram apenas pequenos percalços na carreira de Fidel Castro à frente de Cuba. Afinal, em 46 anos cabe muita coisa e não vão ser um milhão de exilados que vão mudar isso.
A mudança tem que surgir de dentro, todos sabemos, e como pode Cuba tornar-se num país desenvolvido e democrático quando a grande maioria dos cubanos não está mentalizada para isso, ou por medo ou por ignorância? O facto de ser vizinha dos EUA não ajuda, uma vez que estes já mostraram ter alguns problemas no que diz respeito ao desenvolvimento de regimes democráticos, apesar de Cuba não ser o Iraque…
Seja qual for o futuro, eu não gostaria de ser cubano. Não teria qualquer orgulho em ter Fidel Castro à frente do meu país, da mesma forma que não iria gostar de ver o meu país reduzido a um circo de discursos anti-americanos que faz as delícias de milhões de pessoas em todo o Mundo [como é óbvio, essas pessoas nunca foram perseguidas por este regime que tanto defendem] e que agora pouco mais representa do que um destino turístico.
E porque razão nada disto vai mudar, seja qual for o estado de saúde de Fidel Castro? Porque 46 anos à frente de um país são mais do que suficientes para criar as sua próprias infra-estruturas, e se as infra-estruturas físicas são fáceis de alterar bastando haver verbas para isso, as infra-estruturas mentais da população não o são, e mesmo sem os seus discursos de várias horas em directo [podem sempre passar em diferido], Cuba sob a direcção de Raul Castro irá manter a mesma orientação, uma vez que Fidel é apenas a face visível de um sistema. Menos, claro está, para o dito clube de fãs de Cuba, para quem um homem com carisma tem os seus crimes perdoados.

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