7.8.06

"Amamos mais o desejo que o ser desejado"

“Amamos mais o desejo que o ser desejado” - como humanos que somos, temos as nossas necessidades básicas. A satisfação sexual é uma delas, todos os seres humanos possuem, em diferentes graus, uma escala de desejo sexual que se manifesta ao longo da vida. E se a necessidade de amar outra pessoa é vital para um número relevante de seres humanos, a necessidade sexual em si é mais do que suficiente para uma quantidade igualmente grande de indivíduos que compõem a espécie humana.
Daqui vem a verdade inerente à frase cujo autor não é necessário nomear. Os seres humanos nas suas interacções desenvolvem desejo por um número incerto de indivíduos com quem contactam ao longo da vida. A quantidade de indivíduos varia, assim como a intensidade do desejo e as formas sob as quais este se manifesta, mas nunca deixa de existir. Torna-se de tal modo uma força relevante em cada ser humano que é visto como sinal de vida possuir desejo por alguém, enquanto as vidas dos que não aparentam desejar ninguém são consideradas como cinzentas e frugais.
Será assim lógico afirmar o seguinte: um humano ao desejar outro está a cumprir uma necessidade básica da sua condição humana, tal como a respiração, a alimentação ou o sono. Deste facto decorre o seguinte: é possível que o desejo acabe por ser uma necessidade mais forte do que a afeição à pessoa desejada. Por outras palavras, é possível desejar alguém com bastante intensidade ao ponto de se cometerem actos totalmente irracionais que coloquem em perigo a vida do próprio ser humano, mesmo que a opinião (racional) da pessoa desejada seja largamente desfavorável.
Ainda não chegámos à frase inicial. Partindo da premissa que o desejo pode impor-se à paixão e à afeição de um humano por outro, o acto de desejar alguém acaba por ser mais importante e por envolver maior entusiasmo para o indivíduo em causa do que a expressão desse mesmo desejo directamente à pessoa desejada. O indivíduo pode desenvolver um desejo de tal forma poderoso que a pessoa desejada acaba por se tornar apenas num destino do seu desejo, passível de ser instrumentalizado e cuja identidade acaba por se tornar irrelevante, uma vez que o desejo se torna na força que comanda as acções do indivíduo que deseja, deixando de ser uma forma de canalizar as suas expectativas sexuais em direcção a uma pessoa desejada. A pessoa desejada é, nesta situação, apenas um humano alvo de um desejo demasiado forte para que o indivíduo que deseja o possa comportar e que o dirige a outro ser humano, mesmo que não tenha desenvolvido nenhuma relação de proximidade ou que não exista qualquer contacto entre os dois.
Como o desejo é a força mais influente nesta situação, o indivíduo que deseja sente mais prazer em desejar do que em consumar esse desejo, o que até pode nunca se verificar. O indivíduo acaba por dar mais importância ao seu desejo por outra pessoa uma vez que é este desejo que comanda uma grande parte da sua existência material e psicológica. No final, o indivíduo ama mais o desejo do que o ser desejado.

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