Iraque 2006
Depois de erros incontáveis e de perdas terríveis, eis que o Presidente dos EUA aceitou a comparação entre a guerra do Iraque e a guerra do Vietname. Um país como os EUA deveria ter consciência disto, ao fim de três anos e meio de conflito incessante, o desgaste da acção militar comandada pelos EUA torna-se cada vez mais um verdadeiro ponto negro na História recente dos EUA e um factor de descredibilização, já para não dizer que é principal móbil do anti-americanismo e a "inspiração espiritual" dos actos terroristas contra os Estados Unidos.
Mesmo que a compração não seja inteiramente correcta, podem ser retiradas conclusões semelhantes. Afinal, vemos que um conflito no qual um dos beligerantes não beneficia da sua participação só pode ter um desfecho mau, a menos que os milhares de soldados norte-americanos que se encontram no Iraque se identifiquem plenamente com a sua missão no terreno, o que dificilmente é verdade. Que as forças armadas norte-americanas não estavam no passado [e continuam a não estar no presente] preparadas para combater um inimigo que não se rege pelas regras implíctas da guerra, uma vez que não estão a combater um estado, estão em vez disso a aguentar um estado no fio de uma navalha. Que a situação de única superpotência confere implicitamente aos EUA uma margem de manobra que estes não souberam aproveitar e que, ao fim de três anos e meio, a grande maioria dos iraquianos continua a viver com medo e a segurança dos EUA não melhorou em razão da guerra no Iraque.
Para que serviu e qual o futuro da intervenção americana no Iraque? Retirou do poder um déspota totalitário, um resquício de outros tempos que representava um perigo terrível para os seus compatriotas, talvez seja este o único ponto positivo. O que os EUA não se aperceberam foi que, ao remover Saddam do poder, no fundo o único objectivo da invasão, removeram também aquele que era talvez o único elemento unificador do estado iraquiano para muitos dos seus cidadãos. Isto explica porque razão o ambiente no país é de guerra civil, apesar de o novo governo se encontrar totalmente dependente de Washington em inúmeras questões. Ou os EUA não preveram situações de violência sectária e de separatismo de cariz étnico e religioso? Impossível, essas vozes existiram, mas foram ignoradas e eis que o Iraque no final de 2006 surge como uma mera entidade política sem solução para os seus problemas de segurança e como um ponto activo de instabilidade no Médio Oriente [uma região bastante pacífica, como se sabe...], uma base para o terrorismo com atentados diários e frequentes episódios de violência com desfechos trágicos para a população civil.
Que podem então fazer os EUA? Qualquer americano de bom-senso diria "retirar o mais depressa possível do Iraque", tem uma certa razão, ninguém gosta de ver o seu país alvo do ódio de milhões de pessoas em todo o Mundo e de ver o seu nome arrastado pela incapacidade de gestão de um conflito, juntamente com as perdas semanais de soldados americanos e que já se aproximam das 3000 desde a invasão. Porém, uma superpotência não pode abandonar um país que dela tanto precisa, com que cara iria Washington encarar o Mundo, se tiver gravado na sua frente "abandonámos o Iraque e deixámos que a guerra civil se instalasse", sobretudo na proximidade de eleições?
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