30.8.07

Chamem o Sherlock Holmes....

Quase um ano depois de suspeitas e especulações, foram detidos vários suspeitos do assassinato da jornalista russa, Anna Politkovskaya, morta a tiro em Outubro do ano passado.

Para quem não conhece o caso, a jornalista em questão criticava frequentemente a linha seguida pelo Kremlin, em particular no que diz respeito ao conflito na Chechénia e aquando do assassinato estava a investigar abusos de Direitos Humanos cometidos por tropas russas naquela região separatista.

O que mais surpreendeu foi o clima de impunidade que rodeou o assassinato - foram precisos quase onze meses para encontrar suspeitos, a maior parte deles viriam a ser libertados pouco depois por falta de provas, o que parece indicar uma incompetência óbvia dos tribunais russos, lançando ainda mais suspeitas sobre a sua imparcialidade e sobre a inclinação do sector judicial russo. Sem surpreender, a Procuradoria Geral da Rússia apontou para um “grupo criminoso étnico” (eufemismo para caucasiano e/ou checheno), estando na mira das autoridades indivíduos ligados ao crime organizado oriundo da região separatista - que supostamente terão sido os autores materiais do crime.

O que fica ainda por esclarecer é quem terão sido os indivíduos que decidiram o assassinato, quem terá contratado os executantes e quem terá beneficiado com a morte da jornalista. Neste aspecto, as autoridades russas apontam para o milionário Boris Berezovsky, antigo apoiante de Vladimir Putin e auto-exilado em Londres desde o ano 2000, depois de ter sido emitido um mandato de captura com o seu nome; Berezovsky é frequentemente apontado na Rússia como um dos indivíduos mais empenhados em atacar o estado russo e as suas ligações são um ponto de tensão nas relações entre a Rússia e o Reino Unido.

Quando a esfera judicial e a esfera política de um país se interceptam, o resultado é sempre mau para os cidadãos. No caso da Rússia, há que acrescentar o “factor FSB” e a forte ligação que existe entre os principais sectores da economia, os cargos políticos mais importantes e os serviços de segurança federais.

Podemos nunca vir a saber quem encomendou o assassinato da jornalista e quem dele mais beneficiou, mas a principal suspeita nas mentes do público vai sempre na mesma direcção - a do Kremlin, que surge não como o poder executivo numa democracia com separação de poderes, mas como uma força dominante crescente, empenhada na centralização do poder executivo, legislativo e judicial no mesmo órgão, com o auxílio do FSB e dos seus “homens do Presidente”, sem hipóteses para contestação organizada.


Melhores leituras: DaRússia
Editorial de 27 de Agosto do jornal Novaya Gazeta (em inglês)

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17.8.07

Desequilíbrios mediáticos

Uma das críticas mais comuns que se costuma fazer aos meios de comunicação ocidentais, nomeadamente à televisão, aponta para uma concentração de notícias maioritariamente sobre os acontecimentos no próprio ocidente (cuja fórmula indica que um acontecimento no ocidente tem prioridade sobre um acontecimento em África, no Médio Oriente ou na Ásia, mesmo que este último seja mais grave), bem como para uma profusão de "notícias-átomo" sobre os países fora do chamado "Mundo ocidental" e que, regra geral, limitam-se a cobrir catástrofes, fazendo passar a ideia de que "naqueles países pobres" (forma de designar o que não é ocidental) apenas acontecem catástrofes naturais - terramotos, inundações, furacões, erupções vulcânicas, etc - ou catástrofes provocadas pelo homem - atentados, raptos, criminalidade violenta , etc - enchendo o tempo de antena com "notícias" sem interesse nenhum sobre as peripécias de uma qualquer celebridade cujo nome já terá caído no esquecimento dentro de 5 anos ou a cobrir acontecimentos a um nível local cujo interesse é muito duvidoso (a televisão portuguesa gosta muito disto, sobretudo se houver uma família sem electricidade e água canalizada, isso garante exposição mediática).

Até aqui, não há nada de errado, de facto alguns canais de televisão ocidentais preenchem uma boa parte do tempo com segmentos que não lembram a ninguém - o que interessa que o centro de saúde de Santo Antão dos Corcundas com Urticária agora feche às 18:00 em vez de fechar às 20:00? Não faria mais sentido cobrir temas que podem ter impacto no panorama global?

O que esta crítica parece subentender é que os canais de televisão não-ocidentais cumprem o papel que os ocidentais não cumprem, nomeadamente no que diz respeito à transmissão de notícias importantes sobre as suas regiões. Eu tenho sérias dúvidas que assim seja, e passo a explicar porquê:

- recentemente, a TV Cabo instalou receptores digitais nas casas dos seus clientes chamadas "Power box"; a sua qualidade é discutível e parece-me que há alguém (ou muitos 'alguéns') que não percebe lá muito de compressão de conteúdos na TV Cabo, mas adiante! Esses receptores funcionam com um cartão necessário para descodificar o sinal digital de forma a que possamos ver os canais em condições; há cerca de um mês, foram enviados novos cartões que após registadas davam livre acesso à maior parte dos canais codificados durante alguns dias (não, os canais Playboy e Venus não ficaram acessíveis, antes que perguntem); entre estes canais encontra-se o Zee TV, um canal indiano emitido a partir do Reino Unido e que pelo que eu percebi, pretende dirigir-se à comunidade indo-paquistanesa residente naquele país, já que passa sobretudo filmes e séries indianas com legendas em inglês

- agora, e isto merece um ponto próprio, tive o 'privilégio' de assistir a um telejornal da Zee TV, embora não tivesse legendas em inglês e eu não perceba nada de hindi (pelo menos acho que era hindi); uma vez que estavam a decorrer inundações catastróficas na Índia, Bangladesh e Nepal, seria de esperar que fossem tema de abertura e de destaque, já que o canal é indiano e dirige-se a indianos residentes no Reino Unido...mas por acaso não foi assim, na verdade mais de metade do telejornal foi dedicado a uma estrela de Bollywood que foi condenada a uma pequena pena suspensa por ter tido parte numa série de atentados em Bombaim no ano de 1993 (aqueles que levaram à detenção de Abu Salem em Portugal recentemente). Basicamente, foram cerca de 20 minutos dedicados a um galã do cinema indiano e ao seu julgamento e condenação, acompanhado de testemunhos de amigos (alguns dos quais ditos em inglês, pelo que eu percebi o homem é "uma excelente pessoa"). Só depois do intervalo e depois de uma notícia sobre a bola de Bombaim, é que vieram cerca de 2 minutos sobre as inundações na Índia, de uma forma muito "aérea" diga-se.

Segundo eu percebi por aquele telejornal, o galã de Bollywood sob julgamento por ter participado num atentado há 14 anos atrai muito mais atenção do que milhares de pessoas a morrer em inundações e milhões a serem deslocadas pelas águas, hoje em dia; isto é agravado pelo facto de ser um canal orientado para uma comunidade indo-paquistanesa na Europa. Será porque as vítimas das inundações costumam ser pobres e ou de uma varna baixa (sudras e assim, nada de brâmanes!) ou até intocáveis? Mas eu julgava que pelo menos os meios de comunicação dos países ditos "de terceiro mundo" faziam um trabalho mais equilibrado que os ocidentais...pelo menos não deveriam tratar tanto da Paris Hilton como fazem outros...querem ver que fui enganado? Houve um certo director da UNESCO que tinha uns tiques engraçados e que conseguiu afastar da organização uma parte importante do ocidente porque tinha comentários muito pouco pacíficos sobre os países ocidentais, até conseguiu que esta ficasse quase sem dinheiro, se calhar ele não estava assim tão certo como julgava.

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10.8.07

Intro do Chrono Trigger



Eis o meu segundo vídeo colocado no YouTube. Trata-se nada mais, nada menos, do que a introdução do Chrono Trigger, que para quem desconhece, é um excelente RPG lançado em 1995 para o Super Nintendo. Trata-se de um jogo cuja acção se desenrola em várias eras temporais e onde devemos impedir uma catástrofe terrível no futuro, de forma a alterarmos os século seguintes a esse dito cujo futuro.

Apresenta uma realização gráfica excelente, cenários detalhados e coloridos e sequências muito interessantes de assistir, a direcção artística está de parabéns, Chrono Trigger demonstra fazer bom uso das capacidades gráficas da 16-bits da Nintendo. A banda sonora é memorável e embora já seja comum encontrarmos faixas muito boas nos RPGs japoneses, doze anos depois do lançamento, a banda sonora de Chrono Trigger continua a encantar muita gente. A jogabilidade consiste numa perspectiva de topo e na exploração de um continente que muda consoante o tempo em que nos encontramos; somos frequentemente confrontados com inimigos aos quais devemos responder com movimentos ofensivos ou defensivos, porém não se trata de um combate por turnos mesmo que o aspecto gráfico pudesse sugerir isso - Chrono Trigger permite-nos combater com um compasso de tempo em cada batalha, onde após X segundos podemos voltar a atacar, o inimigo por sua vez ataca as vezes que a sua velocidade lhe permitir, ou seja, não são combates para ficarmos a olhar e a pensar no que vamos fazer, felizmente vamos em equipa!

Deve também ser realçado que as escolhas que realizamos ao longo do jogo permitem-nos ter acesso a quinze finais diferentes, longevidade é algo que a SquareSoft não deixou ao acaso neste grandioso título.

Infelizmente, nunca foi lançado na Europa. Os jogadores japoneses e norte-americanos tiveram direito a ele em 1995, mas Chrono Trigger nunca foi alvo de uma conversão para o formato PAL e nunca teve direito a um lançamento oficial na Europa; a única escolha para os jogadores europeus que o queiram ter nas mãos é recorrer a lojas que vendam jogos em 2ª mão e títulos importados, bem como os leilões online do costume. Eu considero-me sortudo por ter uma cópia de Chrono Trigger, ainda para mais quando posso jogá-lo num Super Nintendo americano, que comprei especialmente para ter acesso a verdadeiras pérolas para esta 16-bits que nunca foram lançadas na Europa, Chrono Trigger foi a primeira, outras se seguirão; uma vez que tenho um Super Nintendo americano, posso ainda jogar em toda a "glória" original, sem as irritantes barras pretas no topo e na base do écran que caracterizam os jogos convertidos ao formato PAL (europeu) e a uma velocidade de 60Hz, ao contrário dos jogos que foram lançados na Europa e que sofrem de um recuo para 50Hz, ficando com a velocidade reduzida em 17,5%...se tiverem um jogo de corridas para Super Nintendo ou Mega Drive, não tentem competir contra um tempo americano ou japonês, é pura e simplesmente impossível.

Convém ainda dizer que eu baixei a resolução do vídeo e fiz a compressão com o codec DivX, de forma a poder reduzir o tamanho do ficheiro e facilitar a sua colocação na internet. Divirtam-se!

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