27.8.04

Amor&Ódio

Não fui só eu que regressei das minhas férias, regressou também a banalidade da minha vida e o meu desejo de descobrir um lugar novo todos os dias, nem um ano inteiro em Lisboa me permite descobrir mais do que apenas uma semana na Escandinávia...

É esta banalidade que eu tento evitar de vez em quando com alguns encontros com amigos e com visitas ocasionais ao cinema, embora já tenha visto o único filme que realmente me interessava nesta altura, fahrenheit 9/11, bastante interessante, diga-se. A maioria dos filmes em exibição em Lisboa são aquilo a que eu gosto de chamar, filmes pastilha elástica, ou seja, duram os seus 90-120 minutos e deposi acabam-se, sem qualquer impressão duradoura e sem memória. Ora isto entra em conflito com a designação de Sétima Arte, tantas vezes aplicada ao cinema, um filme pastilha elástica não é de forma alguma uma obra de arte, embora o conceito de arte não seja de todo universal, irão sempre haver pessoas com outras perspectivas.
Por falar em arte, garanto que não fui eu quem roubou as obras de Edvard Munch do Museu de Oslo, aliás eu já cá estava quando o crime aconteceu, a sério!

Por isso, agora que a vida voltou à normalidade, também este blog vai voltar à normalidade e cá vou eu começar a dizer mal de tudo sem ninguém escapar =P Ok, não sou assim tão crítico...

Acho que hoje vou escrever algo sobre os dois sentimentos mais poderosos dentro do ser Humano, o Amor e o Ódio. Toda a gente sabe o que são, julgo não ser necessário defini-los, no entanto, pela forma como são apresentados, o sentimento "Amor" aparece como muitos mais desejável e muito mais aceitável do que o "Ódio". Afinal, somos ensinados desde pequenos, não diria a amar tudo, mas pelos menos a não odiar. Esta é contudo, uma afirmação muito pouco sólida, afinal, a sua veracidade depende da existência de um fundo religioso na nossa educação. No meu caso, para minha grande felicidade, tal fundo não existiu!

Vamos assim dar a uma situação em que o ódio torna-se indesejado, repudiado, ostracizado...odiado! Ele é utilizado para o seu próprio exílio e destruição! Aqueles que tentam a todo o custo eliminar o ódio dos seus corações através de repulsas emocionais, não fazem mais do que utilizar o ódio para eliminar o mesmo, ou seja, e eliminação nunca acontece. É tão simples como a expressão "tapar o sol com uma peneira".
À primeira vista, é perfeitamente compreensível que as pessoas tentem eliminar o ódio das suas personalidades. Numa análise além da superfície, verifica-se que isso nunca pode deixar de acontecer, pelo simples motivo que o ódio é um sentimento perfeitamente Humano, tão natural como o amor. Trata-se de um sentimento que surge sem motivos racionais (se nalguns casos é possível de explicar, noutros não é) e que leva a que se cometam actos incríveis em direcção ao alvo do dito sentimento. Esta última frase que acabei de escrever é 100% aplicável ao amor e ao ódio, basta mudar as letras.

Todos sabemos que a repressão de sentimentos é pior do que a sua expressão, se tal é aplicado a sentimentos de dor, de frustração ou até mesmo de alegria, porque não em relação ao ódio? Não será mais Humano dar a conhecer ao alvo os reais sentimentos em relação a ele? Desde que tal não resulte em perigo para a existência do alvo (partindo do princípio que se trata de outro Humano) a mera expressão de sentimentos de ódio é benéfica para quem os tem. Não estão já documentados casos em que um indivíduo reprime os seus sentimentos mais ocultos que, mais cedo ou mais tarde, emergem numa explosão violenta que arrasta quem não tem nada a ver com o caso?

Tal como é possível amar uma pessoa, uma obra, um momento, um espaço, uma cidade, um país, um estado de espírito, é possível odiar os mesmos, ao ponto de desejar a sua destruição. Tratando-se de sentimentos que dizem respeito a cada um dos indivíduos, numa sociedade bem organizada e civilizada é possível conciliar estes sentimentos sem que isso coloque em perigo os alvos, porque numa sociedade como eu referi, nenhum indivíduo tem o poder suficiente para destruir uma cidade ou um país, nem será tentado a eliminar um outro Humano.

Visto isto, o ódio é um sentimento perfeitamente normal. Há quem o sinta, há quem não o sinta, é Humano, faz parte da nossa mente, quer nos agrade quer não e se tantas pessoas tentam desesperadamente reprimi-lo por motivos sociais, isso chama-se meramente hipocrisia. É por estes motivos que eu não tenho problema nenhum em afirmar aqui, para a meia-dúzia de pessoas que por aqui passam, que tal como eu amo também odeio e não tenho qualquer problema ou peso de consciência por causa disso, sei quais são os meus sentimentos, sei o que faço e sei como funciono. Quanto aos que tentam influenciar outros a reprimir o ódio, estou-me a lembrar assim de repente da "santa madre igreja" (olha, que coincidência!!!!), isso não constitui mais do que uma tentativa de controlo mental num quotidiano cada vez mais dominado por inseguranças e medos por parte dos indivíduos.
Tenho dito!

20.8.04

O regresso - I

Terminou a maior ausência desde que comecei a despejar a minha mente para este meu baú a que chamam de blog. Pois é, voltei na 3ª feira das minhas férias e diga-se desde já que foram das melhores férias que eu já tive. Após esta pequena aventura de duas semanas pelo Norte da Europa, o post de hoje vai ser inteiramente dedicado à viagem. Ou melhor, os posts, porque isto na versão original tem 6 páginas e como o Blogger não consegue lidar com ficheiros tão grandes vou ter que o dividir.

Dia 3 de Agosto, dia do vôo para Estocolmo. Lá cheguei ao aeroporto a tempo e horas de fazer o check-in, a minha mãe acompanha-me até à entrada da área internacional para me desejar uma boa viagem e para me acalmar um bocado os meus nervos, afinal trata-se da primeira grande viagem que eu faço sozinho e foi impossível evitar sentir-me bastante preocupado antes da viagem começar, eu já sei como é que eu sou e imaginava-me a entrar para um comboio errado, ou a perder alguma coisa importante. Enfim, vôo às 10:00 da Snowflake, num avião da sua casa-mãe, a SAS, logo só pode ser bom e de facto é! Após um óptimo vôo, é tempo de validar o meu passe ScanRail (que me permite 21 dias consecutivos de viagens de comboio pela Escandinávia) numa representação dos caminhos-de-ferro suecos no aeroporto de Arlanda, que por acaso fica noutro terminal, logo aqui começaram as minhas grandes caminhadas.
Validado o documento, entro no Arlanda Express, comboio que faz o percurso entre o aeroporto e a estação de Estocolmo, um excelente comboio, conforto total e monitores que informam os passageiros do tempo restante de viagem, do estado do tempo e das notícias do dia.
Em menos de 30 minutos estou na estação de Estocolmo. Apesar do tempo nublado, continua a ser uma das cidades mais bonitas que eu conheço. É obviamente para quem a vê uma cidade Nórdica possuídora de uma grande sumptuosidade e grandiosidade em determinados locais que a meu ver a podem colocar lado a lado com Viena ou Paris, ainda que não sejam parecidas.
Na capital sueca, destacam-se a Gamla Stan, a parte medieval da cidade onde eu adoro percorrer as suas ruelas estreitas, a Stadshuset (câmara municipal) onde são entregues o prémios Nobel todos os anos, o centro mais recente da cidade, em frente à Gamla Stan, o palácio real e a área de Ridarholmen onde se situa a catedral. A minha pousada fica no meio da Gamla Stan o que é óptimo e me dá a oportunidade de percorrer a dita zona imensa vez sem me fartar. As áreas em torno da Gamla Stan foram também "vistoriadas" e recebem a minha aprovação completa! Estocolmo é uma cidade com um ambiente perfeitamente relaxante e apesar de ser uma capital e de ter grande importância não é de forma nenhuma uma cidade agressiva e qualquer um pode perfeitamente aproveitá-la ao máximo sem preocupações como o trânsito ou a segurança.
É também notória a perfeita organização da cidade, mais uma exemplo da eficiência Nórdica, sem vestígios de lixo nas ruas, sem prédios degradados, condutores cívicos, enfim, aquilo que em Portugal é raro!!

Dia 4 de Agosto, às 20:00 tenho um ferry da Viking Line para Turku no sul da Finlândia. Quando pergunto onde fica o terminal, dizem-me sempre que é perto, que só tenho de atravessar a ponte da Gamla Stan para a outra margem e andar uns 10-15 minutos e que os barcos são bem visíveis ao longe. Na verdade, o terminal fica a 3kms! Marchas à parte, vou fazer o embarque. O barco é excelente, de nome Amorella, mais parece um navio de cruzeiro, tem vários restaurantes, casino, bar, discoteca, loja duty-free, quase dá vontade de lá passar dois ou três dias em vez das 10-11 horas que a minha viagem vai durar.
Notável é a venda de álcool barato nestes barcos. A loja duty-free vende bebidas isentas de impostos, o que na Escandinávia significa cortes enormes no preço visto que as bebidas alcóolicas têm uma carga fiscal gigantesca. O catálogo na minha cabine confirma o que já sabia, bebidas de toda a espécie – cervejas, vinhos (até Porto Sandeman!), licores, vodka, rum, etc – a preços inferiores a 25 Euros por garrafa. Por algum motivo estes barcos vão sempre cheios!

Atracámos em Turku às 7:30 do dia 5 de Agosto. Após sair do barco, meti-me no primeiro autocarro que vi, nem sabia para onde ia mas como a minha "base" nesta cidade ficava a uns 2kms do terminal resolvi apanhar o dito transporte. Para minha sorte, parou no centro da cidade, na chamada Kauppatori, ou praça do mercado. Instalei-me e dormi umas horas que bem merecia depois de só ter dormido umas 3-4 horas no barco!
Neste dia à tarde, tenho marcado um encontro com a Alexandra, a minha grande amiga Finlandesa com quem já troco cartas há mais de 5 anos e que eu considero uma amiga bastante próxima apesar da distância. Encontramo-nos na dita praça do mercado, ela é bastante simpática e ao mesmo tempo algo tímida e parece estar nervosa, mais ou menos como eu estava, afinal não é todos os dias que se conhece pessoalmente um amigo de longa data com quem nunca estivemos! Felizmente não houve situações em que ninguém conseguia dizer nada e rapidamente nos demos bem um com o outro. Demos uma grande volta pelo centro da cidade que embora não seja grandiosa ou espectacular é acessível e tem os seus encantos, tal como as margens do rio Aurajoki, a dita praça Kauppatori, a catedral que combina elementos medievais com elementos do século XIX, a rua comercial para peões chamada Yliopistonkatu bem como uma série de casas em madeira que servem de sede a museus e escolas. Após o almoço, no qual a Alex interpretou a ementa em Finlandês para mim, saímos um pouco do centro da cidade e fomos por um caminho enorme (nem sei muito bem em que direcção) pela zona estudantil de Turku. A Alex encarregou-se de me mostrar a faculdade dela – que é bem mais bonita e moderna que a minha, bem como mais amigável e até tem uma sala chamada Valhalla! – e em seguida fomos por um caminho no meio da natureza, apesar de ser encostado à cidade, rodeado por árvores e por água no qual a tranquilidade é total. Estivemos sentados à beira do rio rodeados pela natureza e a apanhar sol com uma temperatura de 30 graus, o que arruina a tese dos que que dizem que a Finlândia é um país permanentemente gelado!
No regresso, a Alex ainda me mostra o apartamento dela em Turku e depois de mais uma pequena volta pela cidade, mais uma vez estivemos à beira do rio, agora no meio da cidade,
comemos umas sandes a que chamámos "jantar" e combinámos uma hora para nos encontrarmos no dia seguinte e seguirmos de comboio para Helsínquia.

Assim foi, às 11:00 lá estávamos outra vez na Kauppatori e fomos a caminho da estação para o comboio para Helsínquia. O combio é excelente, dois andares, o movimento é quase impossível de notar, o conforto é total. Após uma viagem bonita de duas horas, chegámos a Helsínquia, cidade que a minha amiga não conhece bem e que por esse motivo, fomos buscar umas plantas à estação. A primeira coisa a fazer era encontrar a minha pousada na cidade para deixar as minhas coisas e irmos dar uma volta. Ora, aqui metemo-nos pelas ruas erradas, à primeira visita, o centro de Helsínquia é algo confuso, com algumas ruas que mudam de nome a meio (e depois com aqueles nomes acessíveis em Finlandês...) e algumas pelo caminho não ajudaram. O resultado: às tantas estávamos perdidos! Mas não durou muito tempo, lá encontrámos pontos de referência e eventualmente encontrámos a Hietaniemenkatu, rua onde se situava a minha pousada. Depois de lá deixar as coisas, demos uma volta pela zona comercial da cidade em torno da estação, almoçámos e ainda nos metemos por umas ruas sem sabermos muito bem para onde íamos mas a verdade é que a arquitectura é notável, os edifícios são bastante bonitos e, mais uma vez, o ambiente é perfeitamente descontraído. Depois de algumas fotos em jardins, era tempo da Alex voltar para casa, fomos mais uma vez para a estação e depois das últimas palavras foi hora de nos despedirmos. Se não fosse a Alex nunca tinha visto todos aqueles sítios em Turku nem teria sido divertido perder-me em Helsínquia. Gostei muito dos dois dias que passámos e espero que a possa ver outra vez brevemente. Kiitos :) Nästa år i Lissabon?

Após a partida da minha amiga, senti-me algo abandonado mas lá fui explorar a cidade por minha conta. Rapidamente encontrei a Tuomiokirkko, a catedral que é considerada o ex-libris de Helsínquia que tem uma óptima vista dos degraus e que é um sítio óptimo para se estar, rodeada pelos edifícios da praça Senatori. Seguiu-se a zona portuária, também ela muito bonita e óptima para um passeio e a igreja ortodoxa. Ao sair desta área, atravessei duas avenidas conhecidas como Esplanadi e que são verdadeiramente espectaculares, têm provavelmente os edifícios mais bonitos da cidade, uma arquitectura neo-clássica espantosa e recheada de cafés e restaurantes, bem como árvores e gelatarias ao meio. Tornou-se num dos meus sítios favoritos de Helsínquia.

No dia 7, segundo dia em Helsínquia, passei mais uma vez pelos sítios que tinha visto no dia anterior mas desta vez com mais tempo e explorei ainda uma série de ruas menos conhecidas e tão silenciosas que ninguém diria que ali tão perto havia tanto movimento. Nestas ruas é possível encontrar regularmente alguns edifícios verdadeiramente originais. Helsínquia é sem dúvida uma das cidades mais bonitas que eu conheço, não é uma cidade Nórdica (não se parece com Estocolmo) e apesar de ser claramente uma cidade Europeia não é semelhante a nada que eu já tenha visto. Há quem diga que é parecida com S.Petersburgo, é possível mas nunca lá estive e a verdade é que S.Petersburgo é considerada a cidade mais Europeia da Rússia, por isso vamos dar à seguinte conclusão: Helsínquia é uma cidade Finlandesa!

Dia 8, último dia em Helsínquia, resolvi ir na direcção oposta aos dias anteriores. Atravessei um parque que como não podia deixar de ser, tem um lago ao meio e foi uma oportunidade para ver que mesmo fora do centro Histórico e turístico, Helsínquia não deixa de ser bonita. A seguir, fui em direcção a outra parte da cidade a que ainda não tinha ido, não consta necessariamente da zona histórica mas a verdade é que tem elementos verdadeiramente espectaculares. Houve ainda tempo para uma visita ao excelente Museu Nacional Finlandês que cobre desde a pré-história ao ano 2000.

Às 21:00, comboio nocturno para Rovaniemi, 13 horas de viagem. É um comboio normal, sem os atributos do inter-cidades que me trouxe de Turku. Vou-me preparando psicologicamente para a mais longa viagem de comboio da minha vida que me vai levar até à Lapónia. Na altura pensei que tinha muita sorte em não ter ninguém à minha frente o que me dava espaço p/esticar as pernas, mas na próxima paragem entra um soldado mais ou menos do meu tamanho, ou seja lá tive que enconlher as patas. Durante a noite, não sei muito bem porquê, estivemos cerca de 40 minutos parados em Tampere e quando o dito soldado se foi embora e eu pensei que nas próximas 11 horas tinha a frente por minha conta, eis que entram duas Alemãs e que ocupam os lugares à minha frente e largam as mochilas no espaço onde eu iria esticar os pés...Mas entretanto foram-se embora e durante metade da viagem pude esticar-me normalmente! Como a grande maioria do percurso foi feito de noite, não foi possível ver o cenário, mas a verdade é que por volta das 4 da manhã já o sol começava a nascer e passámos por sítios com nomes sem dúvida interessantes, como Hämeenlinna, Tampere, Seinäjoki, Kokkola e Kemi até chegarmos a Rovaniemi, capital da Lapónia Finlandesa, por volta das 10:00. Não dormi mais do que umas 2 horas no comboio e preciso rapidamente de um banho e recarregar baterias. À chegada a Rovaniemi, sentia-me algo desorientado quando saí da estação, o motorista de um autocarro que se preparava para sair viu logo que eu tava à nora, perguntou-me para onde ia e fiquei a saber que aquele autocarro parava perto do meu hotel. Quando cheguei, tomei um banho do tamanho da Lapónia (que diga-se, é grande!) e preparei-me para explorar a cidade. Contudo, não tem nada a ver com Estocolmo, Turku ou Helsínquia. Rovaniemi foi destruída na II Guerra Mundial e reconstruída de raíz, por isso não existe um único edifício histórico e a cidade é bastante vulgar e incaracterística. Talvez por ter sido projectada pelo arquitecto Finlandês de maior renome tenha alguma filosofia arquitectónica que eu não consigo captar, mas a verdade é que não é uma cidade bonita. Contudo, quando eu julgava que apenas estava a perder o meu tempo, descobri que do outro lado do rio, mesmo em frente à cidade, está uma floresta e rapidamente as margens do rio se tornaram no meu lugar favorito da cidade.

O regresso - II

Dia seguinte, 10 de Agosto, às 13:00 deixo Rovaniemi num autocarro rumo a Tornio, na fronteira com a Suécia. Do outro lado da fronteira (neste local é um rio que divide os dois países) está a cidade Sueca de Haparanda, como está em frente a Tornio são chamadas da cidades gémeas. Aqui aconteceu uma coisa muito interessante, quando chegámos a Tornio o motorista anuncia o nome da cidade e eu, logicamente, saí do autocarro. À minha frente estava uma ponte e eu então assumi que do outro lado era Haparanda e que eu estava do lado Finlandês, visto que à minha volta haviam alguns edifícios pequenos. Perguntei ao motorista (que não falava Inglês) se do outro lado era Haparanda, ao que ele respondeu que sim com a cabeça. Lá fui eu, atravessei a ponte mas não via sinais nenhuns de ter passado a fronteira...porque simplesmente não tinha passado a fronteira, a única coisa que eu fiz foi atravessar a ponte para Tornio, depois tive que dar uma volta enorme em torno da cidade até encontrar uma outra ponte, essa sim, que dava para o lado Sueco! Pela primeira vez na vida atravessei uma fronteira a pé, ao chegar a Haparanda vejo um sinal enorme que indica as distâncias para uma série de pontos em todo o mundo, fico a saber que estou a 4811km de Lisboa, nunca estive tão longe de casa! Lá me dirigi para a estação de autocarros, onde daí a cerca de 2 horas tenho um autocarro para Luleå, no norte da Suécia, fico ainda a saber que por ser titular de um passe ScanRail, o transporte é grátis!! Deixei as coisas num cacifo e foi dar uma volta pela cidade que é bastante gira e calma. Mais tarde, apanhei o dito autocarro, cheguei a Luleå, que é uma cidade bastante dispersa e, pelo menos na parte que eu vi, sem grande atributos mas que no entanto tem sempre alguma coisa bonita, como a frente marítima.

Dia 11, tenho uma viagem de comboio toda a tarde até Narvik, no norte da Noruega, já numa zona árctica. Durante o percurso, o cenário torna-se cada ez mais espectacular à medida que nos aproximamos da Noruega. As elevações que existiam na Suécia e Finlândia tornam-se montanhas escarpadas com vestígios de neve nos topos e ao chegar à Noruega começam a ver-se os fjords, uma característica do cenário Norueguês.
Chego a Narvik por volta das 20:00. Narvik é uma cidade pequena, construída em torno de um fjord e rodeada por montanhas gigantescas, se o céu não estivesse tão encoberto e cinzento tinha tirado umas fotos espectaculares aqui, mas paciência... À chegada à estação, está tudo fechado e eu não sei como me vou orientar nem como vou ter à pousada que tinha marcado previamente. Foi então aí que um habitante local muito prestável vem ter à estação numa carrinha e oferece-nos boleia até ao centro da cidade, antes de entrar fico a saber que ele e a mulher têm uma pousada e um pub no centro, claro está que aceitei a boleia. Ao chegar, ele leva-nos a dar uma vista de olhos, a acessibilidade dos preços e a iminência da chuva, tal como a simpatia dos anfitriões, levam-me a aceitar lá ficar naquela noite.

No dia 12, levanto-me de madrugada para apanhar um autocarro às 7:00. Muito silenciosamente levanto-me e arrumo as minhas coisas, sem acordar nenhum dos meus colegas da camarata que aparentemente estão num sono profundo, vou ter à estação de autocarros e apanho um para Bodø, uma cidade a cerca de 300km para sul mas devido às características da região, a viagem demora mais de 6 horas. Este foi provavelmente o percurso mais incrível de toda a viagem, passei por vários fjords e ao lado de montanhas gigantescas. Ao mesmo tempo que tinha lagos e rios de águas límpidas e cristalinas de um lado, no outro erguiam-se montanhas imponentes e no meio disto tudo de vez em quando viam-se umas casas aqui e ali. Durante este percurso, que até teve uma breve passagem marítima num ferry, tirei cerca de 20 fotos, tal não era o cenário.
Durante a tarde, cheguei a Bodø, uma cidade de cerca de 40000 habitantes, capital da região Norueguesa conhecida como Nordland e que ainda se situa a norte do círculo polar Árctico. Foi sem dúvida um dos meus pontos preferidos de toda a viagem. A cidade é construída à beira-mar com um fundo montanhoso (como aliás é normal na Noruega), tem uma zona portuária e uma zona comercial movimentada mas o resto da cidade é quase inteiramente dominado por casas de madeira às cores umas a seguir às outras que se estendem ao longo das ruas onde reina uma paz total. O meu local favorito na cidade era o porto, principalmente percorrer o pontão até ao fim, onde estava no meio do mar, em frente às ruínas de uma fortaleza e rodeado de barcos de um lado e da águas cristalinas e montanhas do outro. Uma cidade verdadeiramente óptima para se estar. Já agora, e tenho que referir isto, almocei num sítio chamado Hobbiten que tem quadros do Senhor dos Anéis nas paredes!!

Após uma noite passada em Bodø e depois de muitos passeios à beira-mar, ao longo do pontão e das ditas ruas com casas onde eu não me importava mesmo nada de morar, no dia 13 às 21:00 apanho um comboio para Trondheim, a terceira maior cidade da Noruega no centro do país.
É mais um comboio normal que não deu p/dormir grande coisa, chego a Trondheim por volta das 8:30 da manhã e antes de me por a caminho da minha pousada tinha de comer alguma coisa...no entanto, na Noruega às 8:30 da manhã não há quase nada aberto, muito menos a um Sábado, depois de quase uma hora à procura finalmente encontrei um sítio. Dei uma "volta preliminar" para conhecer minimamente a cidade e só depois fui p/pousada que ainda ficava a uns 2kms da estação. Depois de instalado, comecei verdadeiramente a explorar a cidade. A pousada fica afastada do centro, próxima do bairro de Rosenborg, num sítio bastante calmo (como aliás parecem ser quase todos os bairros residenciais na Noruega) e mais uma vez rodeada por ruas cheias de bonitas casas de madeira, o que faz sempre um pouco de inveja a quem mora na Estrada de Benfica! O centro da cidade é bonito e agradável. Há uma praça com um mercado da qual saem duas ruas comerciais e nas proximidades está a catedral de Nidaros, uma catedral gótica do início do século XI e que tem um aspecto espectacular! Nas imediações, está o rio Nidelva, à beira do qual se encontra um bairro conhecido como Bryggen (noutras cidades os bairros à beira-rio têm também este nome) caracterizado por edificíos de madeira (surpresa...) assentes em estacas por cima da água. Mais uma vez, confirma-se aquilo que eu já pensava das cidades Norueguesas, o centro e as ruas comerciais são movimentadas durante o dia mas as áreas à volta estão imersas numa paz e tranquilidade total, quase como se trouxessem o campo para a cidade, mesmo que estejam a menos de 200 metros do trânsito e do movimento todo. Entretanto fui dormir um bocado que bem precisava e depois de um descanço merecido saí para comer e ver que tal era a cidade ao início da noite. Na Noruega fecha tudo muito cedo e a partir das 20:00 já só alguns restuarantes e cafés tinham gente, as ruas ficam cada vez mais desertas mesmo nas zonas comerciais e passado pouco tempo está tudo imerso num silêncio total.

No dia 15, Domingo, o ambiente é ainda mais calmo. Neste dia optei por dar um passeio pelo bairro medieval, fica bem próximo do rio e de Bryggen e, tal como os outros, caracteriza-se por...sim, isso mesmo, casas de madeira! Só que estas são mais antigas e estão dispostas de uma forma mais dispersa. Seja como for, é um bairro lindo e que ficou ainda melhor quando descobri um caminho íngreme e que me levou a um sítio do qual pude tirar uma foto incrível com grande parte da cidade lá em baixo. Contudo, o melhor ainda estava para vir, pois eu anda não tinha descoberto o caminho para subir à Kristiansten festning, ou seja, uma fortaleza que se situa no tpo de uma elevação, não sei será a mais alta de Trondheim, vi algumas ao longe que parecia tanto ou mais altas, mas a verdade é que a vista lá de cima é espectacular.
Tinha o comboio para Oslo às 23:00, por isso, para fazer tempo e porque estava quase tudo fechado, resolvi descer e começar a andar pelas ruas sem ter um objectivo específico, ou seja, limitava-me a andar sempre em frente quando encontrava uma rua desconhecida, o que por vezes valeu bem a pena! O tempo foi passando e finalmente às 23:00 lá apanhei o comboio para Oslo, este sim, uma grande máquina, muito confortável, quase como um avião ou até melhor. Aqui até consegui dormir bem durante mais de 4 horas feito notável!

Chego a Oslo no dia 16 às 7:00 e está a chover, e não é nada pouco! Raios, saio da estação e percorro a Karl Johans Gate, a ruma mais comercial da cidade, à procura do meu hotel, um sítio com preços muito acessíveis e com uma localização excelente, quase enviado pelos deuses! Como é demasiado cedo, ainda não posso fazer o check-in, ou seja, lá volto eu p/rua com chuva e tudo! Dificilmente se podia dar um passeio, por isso vou tentando acompanhar os toldos, coberturas e todos os outros sítios em que me pudesse abrigar até que finalmente chego à câmara municipal, onde todos os anos é entregue o prémio Nobel da paz e para me refugiar da chuva resolvo entrar e andar por lá um bocado – tive que desembolsar 50 coroas, é assim na Noruega, só não se paga o oxigénio! Mas vale a pena, a decoração e as pinturas são excelentes. Quando saí já tinha parado de chover e aproveitei para dar uma volta na zona antiga do porto, convertida numa avenida cheia de restaurantes, cafés e apartamentos de luxo em frente ao mar, coberto de barcos. Em seguida, vou à fortaleza Akershus onde se situam vários edifícios, entre os quais, o museu da Resistência Norueguesa, no qual aumentei bastante os meus conhecimentos sobre a II Guerra na Noruega.
Entretanto, eram horas de almoço e depois de morfar segui para um passeio pela Karl Johans Gate e imediações. Oslo é uma cidade bastante interessante, combina os aspectos de uma cidade Nórdica, nalguns pontos faz lembrar Estocolmo embora não seja necessariamente parecida enquanto que tem também uma parte moderna incrível, com imensos edifícios em vidro e aço sem que sejam incaracterísticos ou que perturbem a vista, pelo contrário, fazem até um bonito contraste.
Este era o último dia da minha aventura e eu aproveitei as horas antes de jantar para comprar uns postais e ainda um poster dos deuses Nórdicos! Não se podem fazer compras muito ambiciosas na Noruega, o país é tão caro que ainda acabamos a pedir!

Enfim, depois de jantar, dou um último passeio e despeço-me da capital Norueguesa, dirijo-me ao meu hotel ainda cedo porque no dia seguinte tenho de acordar às 4 da manhã de forma a estar no aeroporto às 5:00. Saí do hotel por volta das 4:20 para apanhar o expresso do aeroporto na estação às 4:45. A estação de Oslo é incrível, parece um autêntico aeroporto!! Chego a Gardermoen pouco depois das 5:00, cumpro as formalidades todas e embarco no avião da Norwegian com destino a Faro (os preços eram incríveis!no bom sentido!).

Depois de um vôo óptimo, à chegada a Faro apanho um autocarro para o centro e encontro a estação de comboios onde às 14:00 vou apanhar o inter-cidades para Lisboa. Estou definitivamente de volta a Portugal, nenhum carro pára p/que eu possa atravessar a rua, apesar de eu ir carregado, há prédios degradados com pessoas a viver lá dentro e vejo sucatas à beira da estrada...não era bem este o país de que começava a sentir saudades! E a estação de Faro quando comparada com a de Oslo...bem, sem comentários!

Foi uma pequena aventura de duas semanas que me permitiu alargar ainda mais os meus horizontes e, não só poder sentir o ambiente que se vive no Norte da Europa como também ter algum contacto com os habitantes locais e perceber que a maior parte dos estereótipos que os Portugueses têm dos povos Nórdicos são errados. Acima de tudo, nunca pensem que Noruegueses, Suecos e Finlandeses são iguais, não são, garanto-vos, nem pensem que são povos mortos, cinzentos e tristes porque isso também não é verdade, antes pelo contrário.
Foi uma viagem óptima na qual não houve precalços nem problemas e que eu recomendo a toda a gente. Muito melhor do que passar dias seguidos na mesma praia!
Até à próxima!

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