29.7.04

Guerra&Paz

Gostava muito de conhecer a fundo a origem da conflitualidade na mente Humana. Desde a nossa existência que os Humanos entram em conflitos entre si, quer seja um Humano em conflito directo contra outro, quer seja um conflito entre entidades organizadas.

Normalmente, os conflitos surgem como a forma irracional de resolver divergências de origem racional, ou seja, ambos os lados apresentam motivos válidos para se envolverem num confronto, mas os meios que utilizam com o fim de resolverem a situação dificilmente são válidos, resvalando muitas vezes para a barbaridade. E com isto eu não me refiro apenas ao que surge imediatamente na nossa cabeça, ou seja, uma guerra entre Estados. Refiro-me a tensões entre pessoas comuns, a divergências e oposições que vão além da concorrência aceitável e entram no campo da desonra e do menosprezo pela Humanidade. Porque é que os Humanos procuram tanto a via da conflitualidade para resolver divergências? Será que o seu maior interesse não reside inteiramente na resolução mas sim em atrair o outro lado para o maior grau de destruição possível? Ou seja, quanto mais danos forem infligidos ao outro lado, melhor?

Todos os dias assisto a isto, quer seja nos meios de comunicação entre grupos organizados de Humanos, quer seja no dia-a-dia entre pessoas que eu conheço e com quem tenho contacto numa base quase diária. Neste último caso, obviamente as consequências são menos graves mas a raíz da conflitualidade está lá. Como é que é possível que todos nós (ou quase se não me engano) apontemos como prioridade a paz mundial entre todos os Humanos quando no nosso dia-a-dia entramos em conflitos constantes e desonrosos entre os nossos semelhantes com quem teríamos bastante a ganhar se para isso nos esforçássemos? Como não pode deixar de ser, tem de haver um investimento mútuo, ambos os lados têm de estar interessados nessa cooperação, o interesse tem de ser sincero e não pode ocultar nada. Por outras palavras, tem de existir confiança entre as partes envolvidas. E é aqui que começa a decadência. Em muitas situações, os Humanos nas suas relações mútuas já vão mentalizados para tirar o máximo proveito uns dos outros, retirando o máximo e contribuindo com o mínimo possível, chegando a atingir níveis absurdos e abjectos de exploração Humana - e isto aplica-se a tudo o que se possa imaginar.
Por outro lado, outros há que, ao interagirem com os seus semelhantes, depositam tanta confiança neles que acabam por ser traídos - uma das formas mais baixas de tratamento possível - e quando se apercebem pouco lhes resta senão amaldiçoar de toda a forma o/a responsável.

Esta problemática da confiança mútua, quando extrapolada para o panorama dos Estados, leva a situações que todos nós conhecemos e a que assistimos todos os dias: o exemplo mais flagrante é o do Médio Oriente. Quantas vezes já eu pensei, quando os planos para a paz entre Israelitas e Palestinianos falham, que o maior problema é a confiança ao nível político? Esta falta de confiança dos dois lados, aliada ao fundamentalismo (também ele com origem, pelo menos parcial na falta de confiança) que existe dos dois lados, torna frustrantes os esforços daqueles que se dedicam a um projecto que traga paz aos povos da região. Basta entrar na mente tanto de Israelitas como de Palestinianos para ver que a confiança é fundamental neste caso. Um Israelita muito provavelmente deseja acima de tudo poder sair de casa sem medo de ser vítima de um atentado suicida, mas ao mesmo tempo não estará disposto a fazer demasiadas concessões ao outro lado, temendo um aumento da violência. Por sua vez, um Palestiniano (que não seja, obviamente, membro do Hamas ou de outra associação de tempos-livres que existem naqueles territórios...) acima de tudo deseja viver em paz, sem o medo de ver a sua casa destruída numa retaliação contra os terroristas que vivem perto de si. Ao mesmo tempo, irá certamente pensar que para a violência acabar, é necessário que seja concedido um Estado à Palestina e que os grupos fundamentalistas parem as suas campanhas, mas sentirá desconfiança em relação às correntes ultra-ortodoxas Israelitas que tudo farão para impedir a formação de um Estado Palestiniano.

Não pretendo, de forma alguma, reduzir a um parágrafo um problema que tem trazido dores de cabeça a imensas pessoas e uma dor mortal a milhares de habitantes locais, mas consigo ver a falta de confiança dentro do problema do Médio Oriente e arrisco colocá-la naquilo que eu aponto como a "componente Humana" do conflito, ao lado desta co-existem uma componente geopolítica e uma coponente religiosa e da interacção entre estas surge o triste espectáculo que todos nós conhecemos...

Isto foi apenas um exemplo que eu escolhi por ser tão mediático e por todos nós estarmos já, infelizmente, habituados a ele. Mas passam-se situações análogas todos os dias à nossa volta, numa escala muito menor como é óbvio. Volto a repetir a ideia: todos nós, ou quase todos, queremos a paz mundial, para a partir dessa base, nos podermos concentrar nos problemas particulares de cada povo, de cada região, de cada um. No entanto, relacionamo-nos numa base de desconfiança, conflitualidade e algo mais que eu não consigo expressar porque provavelmente é um conceito que não existe em Português mas que se eu investigar o suficiente, talvez consiga encontrar um semelhante em Alemão, uma das línguas mais completas que existe! Aquilo que eu estou a tentar dizer é, nenhum de nós pode tentar atingir a paz mundial sem antes atingir a paz individual com os outros Humanos com quem somos forçados a interagir, porque nenhum de nós pode ser completamente autosuficiente, embora por vezes isso fosse bem bom.

E agora cá está, o problema que surge sempre no final de cada post...acho que vou deixar o público tirar as suas próprias conclusões! Se tiverem uma opinião formada (espero sinceramente que sim) enviem, parto do príncipio que têm o meu contacto. Um bom dia para todos!

PS: O tema do post de hoje não surge por acaso, entre pessoas que me são relativamente próximas assisti recentemente a conflitualidade Humana absolutamente lamentável e que ainda por cima me parecia propositada...

28.7.04

Insight...

Hoje resolvi esclarecer um pouco aqueles que ainda têm dúvidas sobre a minha natureza, ou pelo menos aquilo que eu considero como a minha natureza.

Se no que diz respeito à chamada "fé" não há qualquer dúvida nenhum que sou um ateu e que defendo o meu ateísmo com unhas e dentes, o qual vai merecer um post aqui um dia, não posso deixar de referir outros aspectos igualmente importantes para a minha natureza.

Do ponto de vista cultural, eu aproximo-me do Paganismo. Apesar de não seguir nenhuma corrente em particular, tem que lhe ser reconhecida a importância devida, afinal de contas é a base da identidade Europeia e ao longo dos séculos manifestou-se por todo o continente encontrando-se ainda hoje em imensas tradições e celebrações pela Europa fora. A identidade e a cultura Europeias não são, de forma alguma, cristãs, como alguns parecem querer insistir.

Do ponto de vista da filosofia, eu considero que mantenho um certo equilíbrio entre o Humanismo e o Satanismo. Para quem não conhece a filosofia Satânica isto é muito difícil de explicar, mas digamos que é uma tentativa de conciliar o individualismo que leva à independência do Ser Humano em relação a condicionantes externas, ou seja, um esforço de não me tornar demasiado dependente ou amarrado a certos pressupostos, que é algo que eu tento mas ao mesmo tempo, considero que o Ser Humano é a entidade Suprema deste Universo. Basta ver a expansão da obra Humana, tudo o que nós criámos ao longo dos tempos e tudo aquilo que nós imaginamos, os limites que são deslocados para cada vez mais longe, limites quer intra-humanos, quer extra-humanos. No entanto, o Ser Humano está longe de ser aquilo que realmente pode ser. A Humanidade constitui ao mesmo tempo, a sua esperança e a sua própria perdição. Cada Ser Humano tem o potencial de engrandecer a espécie Humana mas também a pode destruir. A própria natureza Humana tem elementos que a torna destrutiva em certas ocasiões, é uma característica intrínseca à Humanidade, basta ver aqueles que atingiram um lugar de poder despótico ou tirânico, ou então os líderes religiosos que com o poder das palavras conseguem mobilizar milhões de pessoas que cumprem os seus desígnios.

Daqui advém a necessidade de uma filosofia capaz de encontrar um ponto comum entre o Individualismo e o Humanismo, ou seja, uma filosofia que tenha na sua base a independência do Ser Humano sem constrangimentos morais que não lhe dizem respeito e que foram impostos por entidades interessadas na sua decadência. A filosofia Satânica, como certamente sabem os que a estudaram, incide sobre estes pontos, criando espaço dentro de cada um de nós para um Individualismo que, para responder a eventuais críticas, não tem nada de prejudicial nem de excessivamente egoísta se for respeitado pela Humanidade. Um indivíduo que segue a filosofia Satânica tem de ser um indivíduo minimamente responsável e inteligente para compreender as suas implicações e assim poder criar um equilíbrio de forma a não entrar em ruptura com os outros Humanos.

Embora eu não me considere um verdadeiro Satanista, visto que não acredito na magia ritual-simbólica inerente ao Satanismo (não tem nada a ver com sangue ou sacrifícios, é como eu escrevi, simbólica), a filosofia Satânica é para mim uma inspiração até certo ponto, ou seja, é importante mas não se sobrepõe ao Humanismo, nem o Humanismo atinge supremacia total. Mais uma vez, existe um equilíbrio, desta vez dentro da minha mente que permite que eu mantenha um espírito independente sem, no entanto, eliminar um certo optimismo antropológico que, apesar de tudo ainda me faz orgulhoso de pertencer a esta espécie Humana, mesmo considerando os seus maiores problemas.

Por hoje é tudo, até à próxima!

25.7.04

A famosa letargia de Verão...

Depois de algumas alterações aqui na estrutura do blog, além do visual que eu já tinha referido, podem ver que a secção dos links foi ampliada e vai ter novas atracções em breve.

Normalmente, quando eu aqui venho para escrever alguma coisa, já tenho uma ideia sobre o que vai ser. No entanto, hoje estou completamente em branco - ou melhor, tenho várias ideias a pular aqui dentro mas não sei qual delas é que vou projectar para aqui, por isso não estou em branco, estou mais em mistura-confusa-de-tudo-e-mais-alguma-coisa!
Há já umas semanas que não vou ao cinema, tenho que remediar isso em breve, mas os filmes que estão a ser exibidos não me motivam muito. Porque será que quando eu não tinha tempo para ir ao cinema, ou seja, quando tinha frequências e trabalhos para fazer, estavam em exibição imensos filmes que me interessavam e agora que tenho todo o tempo do Mundo só há filmes pastilha-elástica e pouco mais??

Mas hoje também não vou escrever sobre cinema, isso fica para outra altura...
Acho que vou acabar por, mais uma vez, escrever qualquer coisa sobre os Humanos, essa espécie incrível da qual eu faço parte e de que por vezes me orgulho e outras não.
Na verdade, os Humanos são uma Raça incrível. Dentro das suas cabeças encontra-se o instrumento mais complexo do nosso Mundo, um cérebro infinitamente denso capaz de realizar as operações mais complicadas e de criar as obras mais pormenorizadas a um nível mínimo. No entanto, um grande número de Humanos não passa de criaturas que se limitam a responder aos estímulos básicos do dia-a-dia, ou seja, dormir quando tem sono, comer quando tem fome, beber quando tem sede, cumprir as ordens no local de trabalho e de vez em quando mostrar apoio ou repulsa por algo. E pronto, nada mais, ir além destas directivas torna-se demasiado doloroso para muitos Humanos e desvia-os daquilo que eles consideram como realmente importante. Isto tem uma consequência gravíssima: os Humanos não se apercebem do potencial que têm, desperdiçam o seu poderosíssimo cérebro e acabam por ser manipulados por quem percebe que eles não dão uso ao seu órgão mais poderoso. Tudo isto abre caminho a flagelos como exploração, pseudo-servidão, religião organizada, consumo desnecessário, marketing político e social, códigos de conduta sem razão de existir, entre outros.

Todos estes flgelos são impostos a um grande número de Humanos desde o nascimento sem que estes se apercebam. Contudo, eles instalam-se ao longo dos anos e quando o Humano em questão desenvolveu o raciocínio necessário para dar conta da situação, já é demasiado tarde para sair dessa teia. Assim, o Humano em causa vê os flagelos como necessários e indispensáveis à sua vida e não como limitadores da sua Humanidade. Ao longo dos séculos que é assim e muito provavelmente será assim durante os próximos séculos. Talvez estes flagelos existam como parte essencial da Humanidade, afinal não conseguimos imaginar a nossa Civilização sem eles e eles decorrem da actividade de outros Humanos que se aperceberam da importância destes mesmos flagelos. Talvez o melhor caminho a seguir não seja destruí-los mas sim torná-los mais flexíveis, ou seja, atingir um ponto comum entre os dois lados. Eu pessoalmente não consigo imaginar um Mundo com sistemas políticos 100% eficazes em que toda a gente esteja satisfeita, ou um Mundo em que toda a gente esteja feliz com a sua vida. Isso seria, por mais paradoxal que possa parcer, negativo para a Humanidade. Se toda a Humanidade estivesse feliz com aquilo que tem e com o que existe à sua volta, isso seria sinal de que os seus padrões tinham decaído bastante e que não só nos estaríamos a contentar com pouco como também estaríamos a entrar em estagnação e declínio, visto que não haveria mais estímulos a tentar conduzir a uma mudança, a uma melhoria, a uma inovação.

Hoje fico por aqui, um post de dimensão inferior à média, é verdade mas hoje além de a inspiração ser pouca - para variar - o calor é muito, o que faz mal ao cérebro...Aliás, acho que este post soube a pouco, parece muito limitado, da próxima vou ter que remediar isto!

22.7.04

"Dark Chest of Wonders"

O excesso de férias é uma coisa terrível para a inspiração de uma obra artística. A mente funciona mais devagar, as ideias não alfuem tão rapidamente (se calhar a circulação sanguínea dentro da cabeça também diminui...) e a vontade diminui devido ao clima geral que se sente nesta altura do ano.





Felizmente, isto não é nenhuma obra de Arte!! Longe disso, isto é mais um caixote...não, caixote revela demasiado desprezo...digamos que isto é mais o meu baú, sim é isso!
Isto é o meu baú particular que eu resolvi abrir (não totalmente, claro) e de vez em quando deixo o público deitar uma espreitadela e retirar as suas próprias conclusões. Não pensavam que eu ia chamar obra de Arte a isto pois não?!

Tendo em conta aquilo que eu disse, eu não sofro de falta de inspiração artística provocada pelas férias e subestimulação cerebral, sofro de preguiça, a doença mais comum do Cidadão, altamente contagiosa e uma vez contraída deixa sequelas para toda a vida...Não é que me importe! Aliás, já me habituei tanto que ela tirou-me a vontade de a curar!Hehehe....


De qualquer forma, os (poucos, mesmo muito poucos) leitores assíduos deste meu baú devem ter reparado na mudança de cenário. Resolvi alterar o template que servia de base ao blog e optei por um que me parece mais sóbrio e ao mesmo tempo que me atrai mais. Vou também adicionar links novos em breve, porque aqueles três que estavam no blog há já umas semanas estão mais que batidos, vão continuar mas acompanhados de novos "colegas".


Assim, hoje resolvi escrever a referida mas entretanto atropelada crítica ao álbum mais recente dos Nightwish.O álbum "Once" foi lançado na Finlândia em Maio de 2004 e no resto da Europa cerca de um mês depois. A expectativa era grande, principalmente devido ao êxito do anterior lançamento, "Century Child" (2002) e às informações que davam conta de um disco de proporções absolutamente épicas e grandiosas que iriam superar o LP anterior.

E é assim que temos uns Nightwish com um som semelhante ao de Century Child só que elevado ao quadrado. Ou seja, os riffs mais pesados que foram apontados no álbum anterior foram reforçados. Nota-se uma certa libertação do anterior som da guitarra, talvez pela maior experiência do guitarrista. A velocidade também lá está e a sonoridade do lado da guitarra aproxima-se do thrash metal, sem no entanto se poder considerar como tal. O baixo está mais audível do que nunca, não há dúvida que este baixista foi uma mais valia para a banda (há 2 anos diria o novo baixista, hoje já não) não só em termos instrumentais mas também em termos vocais, visto que Marco Hietala, o membro mais velho da banda, complementa as vocalizações de Tarja nalgumas faixas.A bateria de Jukka Nevalainen continua a ser aquilo que os fans conhecem, rápida, tecnicista e precisa, em virtude de ter um excelente profissional aos seus comandos! No entanto, é possível notar algumas melhorias que se encaixam bastante bem nas composições. A voz de Tarja Turunen está bastante semelhante à do álbum anterior, no qual deixou as vocalizações operáticas que a mais identificavam, passando agora a ser mais parecida com uma cantora lírica. O teclista Tuomas Holopainen tem o mérito de ter escrito a maior parte das músicas e das letras e de ter composto um excelente álbum. Se em Century Child tínhamos a presença de alguns músicos de orquestra, desta vez temos uma orquestra completa! Ou quase, não tenho bem a certeza. Os instrumentos orquestrais conferem uma sonoridade ainda mais grandiosa (o que quase parecia impossível!) ao álbum, o que combina perfeitamente com a afirmação de uma costela cinematográfica por parte da banda.

Em particular, este álbum revela-se também como um álbum em que Tuomas deu mais asas à criatividade e assim incluiu elementos que até agora ainda não tinham feito parte do portfolio dos Nightwish. Por exmeplo, uma batida mais electrónica/techno na faixa #2 "Wish I Had an Angel", uma sonoridade mais "Oriental" na #6 "The Siren" e sem dúvida alguma, a #5 que o teclista considera como um pico do seu esforço "Creek Mary's Blood" que inclui a participação de um Índio Norte-Americano e que ao longo de mais de 8 minutos junta o Metal melódico dos Nightwish a uma sonoridade Índia, que tal como a letra, cria uma atmosfera inovadora e ao mesmo tempo épica. Destaca-se ainda nesta faixa uma longa narração por parte do dito Índio na sua língua nativa, que eu não sei qual é mas hei-de descobrir. Gostava ainda de realçar a #3 "Nemo" que foi lançada em single e que inclui partes suaves, mais pesadas e um solo de guitarra, uma perfeita janela para o resto do álbum, sem dúvida que foi bem escolhida para single. Já agora, gostava ainda de referir a #9 "Ghost Love Score" que com os seus 10:00 de duração podia ser uma banda sonora e ainda a faixa que se segue, uma balada chamada "Kuolema Tekee Taiteilijan", cantada em Finlandês, algo que não acontecia desde 1997 no álbum de estreia Angels Fall First, no qual a épica Lappi tinha uma primeira parte acústica cantada em Finlandês. Apesar de a língua ser totalmente incompreensível (eu apenas sei que "Kuolema" significa "morte") é algo que eu aprecio muito.

Se este álbum tem algum ponto negativo....só se for mesmo a capa, que embora eu não lhe chamasse "negativa" (longe disso) é verdade que os Nightiwish já tiverem melhores obras de Arte a adornar os seus álbuns.
Como avaliação final, numa escala de 0/10, dou um 9 redondo a "Once", se tivesse sido lançado em 2002 sem que "Century Child" tivesse existido provavelmente dava-lhe 9,5 mas como é algo que se situa a meio caminho entre uma evolução e uma mudança, fica-se pelos 9. Felizmente, não é nem uma mudança a 100% nem uma evolução a 100%.Por último, quero referir que apesar de se tratar de uma banda Metal, isto não siginifica que os Nightwish possam ser apreciados apenas por metaleiros, pelo contrário, muitas pessoas que no geral não ouvem Metal - vá-se lá saber porquê ;) -gostam de Nightwish, sendo uma banda bastante consensual. A melhor prova disto é que até agora nunca vi uma crítica negativa a um lançamento dos Nightwish, ou que os considerasse como inferiores. Por isso, a próxima vez que forem comprar um cd, vejam se põem os olhos nisto que eles bem merecem! O álbum e o single estiveram em alta (nos Top 20) por toda a Europa, por isso podem ver que para atingir esta classificação não é preciso ser de plástico nem estar na moda ou empurrado para o palco.Da minha parte, por hoje é tudo, vou-me embora ouvir Nightwish!=)

14.7.04

Paradoxal? De maneira nenhuma!

Saudações!
Estes últimos 9 dias foram marcados por uma ausência de posts aqui neste meu "caixote", não por me encontrar ocupado com alguma coisa, visto que as responsabilidades da faculdade acabaram no dia 23 de Junho mas mais por estagnação mental e falta de inspiração para escrever alguma coisa. Pois é, as férias são óptimas mas ao mesmo tempo o meu cérebro entra em estado vegetativo o que não é nada bom para registos como este blog que eu aqui tenho. Prova disso são os mais de dois meses de existência do blog e a presença de apenas 24 posts, o que dá menos de 1 a cada dois dias... Por outro lado, eu acredito em escrita com um mínimo de qualidade, prefiro estar 10 dias sem escrever e depois lançar algo minimamente racional do que limitar-me a descrever o meu dia-a-dia enfadonho.

Depois das opiniões políticas dos útlimos posts e daquelas linhas sobre o Euro 2004 que eu agora preferi abandonar, afinal já acabou há 10 dias, hoje, dia 14 de Julho, aniversário da Tomada da Bastilha, vai sevir para voltar à actividade normal do blog, pelo menos até eu ir de férias no dia 3 de Agosto.

Assim, gostava aqui de lançar uma opinião que provavelmente chocaria muita gente se fosse mais divulgada mas como quem lê isto está praticamente num círculo restrito de indivíduos não vai chocar ninguém. É simples, cheguei à conclusão que o cristianismo é nada mais, nada menos que uma forma de proto-comunismo! Pode parecer estranho à primeira leitura, mas vejam bem: o objectivo da prática da religião cristã do ponto de vista do Humano que não é clérigo, é atingir a salvação da alma e uma eternidade num local denominado "céu" onde a alma goza de um período interminável de paz e felicidade; de acordo com a doutrina cristã, principalmente a vertente católica, todos os Homens são iguais perante a divindade à qual prestam culto, aos olhos de quem não existem ricos nem pobres, grandes ou pequenos, inteligentes ou broncos, etc. Ou seja, um tratamento igual para todos.

Contudo, isto não é ainda o suficiente para afirmar o que eu disse atrás. Vamos mais longe: o cristianismo, e mais uma vez, a vertente católica é mais insistente nesta questão, advoga o nivelamento por baixo da Humanidade. Somos todos iguais, ou seja minúsculos e insignificantes perante uma divindade misericordiosa (mas ao mesmo tempo irascível e invejosa...) que tem pleno poder sobre o nosso destino após a morte (após a minha não há-de ter de certeza!!). O cristianismo chega a fazer a apologia da pobreza e tem uma ligação particular aos meios em que os Humanos dispõem de um nível de vida muito baixo (porque será que milhões de cristãos são pobres e analfabetos?), independentemente dos benefícios que isso possa trazer à igreja cristã. Afinal, a pobreza e a indigência são os meios no qual o cristianismo se desenvolve mais rapidamente e nos quais é mais fácil recrutar novos seguidores.

Se fizermos uma comparação com o Marxismo, raíz teórica do Comunismo, encontramos semelhanças. O Marxismo surgiu no contexto da Revolução Industrial e dos graves problemas sociais que as modificações profundas dos sectores produtivos trouxeram à força de trabalho no mundo industrialisado. O objectivo inicial do Marxismo é a destruição do sistema capitalista e a sua substituição por um sistema no qual a anterior relação de luta de classes fosse eliminada, abrindo caminho para uma sociedade sem classes na qual nenhum indivíduo possui poder sobre o outro, no sentido em que um patrão detinha poder sobre um operário, ou em que um senhor feudal detinha poder sobre um vassalo. No Marxismo, a infra-estrutura iria assim condicionar a super-estrutura, alterando profundamente as relações sociais, políticas e económicas. No cristianismo, passa-se algo semelhante, só que ao invés de se desenrolar no quotidiano, como no Marxismo, passa-se no sector espiritual. Ou seja, o cristianismo pretende, uma vez consumada a passagem da alma do nosso Mundo para o além, inseri-la numa nova infra-estrutura, na qual nenhum Humano terá poder sobre outro, criando assim uma "sociedade" ideal num plano além da nossa dimensão, no qual as origens de cada indivíduo serão irrelevantes.

Tal como no Marxismo, os mais sofredores serão recompensados, afinal de acordo com a doutrina de Karl Marx, a classe operária explorada pelo sistema capitalista, nada teria a perder com a destruição do capitalismo e só teria benefícios a tirar de uma revolta violenta contra o patronato ao passo que no cristianismo, os pobres de espírito e os que se martirizam em nome de fantasmas que só existem no seu imaginário serão os maiores beneficiários de uma vida eterna de paz e felicidade no dito "céu". Diferenças materiais à parte, podemos estabelecer uma analogia entre as duas doutrinas.

Já agora, mais uma semelhança: nenhuma delas resulta!
Aqui ficou o meu regresso, provavelmente um post ao meu estilo mas que me deixa satisfeito por ter tido inspiração para o dia de hoje!
Nos próximos dias, outros se seguirão. Até lá!

5.7.04

O bicefalismo a que estamos condenados...vamos recorrer da sentença!

Na sequência do post anterior e ainda a propósito da saída a meio do mandato de Durão Barroso para a presidência da Comissão Europeia, gostava aqui de escrever qualquer coisa sobre o sistema bipartidário, ou melhor, o sistema político bicéfalo, que domina a democracia Portuguesa desde o 25 do A.

Cada vez que chega a altura de ir votar em eleições legislativas, a eterna questão coloca-se: PS ou PSD?
E a eterna resposta vem ao de cima, pelo menos para mim: mas qual é a diferença?
Sim, qual é a diferença entre os dois maiores partidos Portugueses à parte das cores que os identificam?
Nem o PS é um partido socialista, visto que de Marxista não tem nada e o Socialismo sem Marxismo não existe, nem o PSD é Social Democrata, a Social Democracia Europeia não tem nada a ver com o PSD Português e está normalmente relacionada com os modelos de Estado Providência adoptados nos países Escandinavos. São portanto dois partidos sem ideologia que apenas mantêm as designações com o propósito de captar as atenções das pessoas mais reivindicativas dentro da respectiva (e aparente) corrente política de cada partido, ou seja, tem a ver com populismo. Sim, porque de vez em quando, naquelas alturas em que as sondagens não são faovráveis, um bocadinho de sectarismo político não faz a mal a ninguém!Só nessas situações é que convém lembrar ao eleitorado que "o nosso partido é de esquerda" ou que "o nosso partido é de direita".

O PSD é um partido de tecnocratas que é identificado como sendo de centro-direita mas que apenas reúne membros do centro e da direita (o que é diferente) e que apesar de se denominar social democrata tem sempre uma agenda dominada pelo liberalismo económico, sendo próximo de antigas linhas partidárias Europeias como a de Margaret Thatcher no Reino Unido.
O PS afirma-se como socialista mas na verdade a sua agenda aproxima-se mais da social democracia, embora numa versão muito desjeitada, por um motivo muito simples: laxismo ou antes, jobs for the boys, isto sem sequer entrar na incompetência por detrás das suas medidas cujos resultados se tornaram visíveis em 2002.

Apesar dos discrusos eleitorais serem diferentes e de ambos gostarem de vez em quando de puxar ao discurso "esquerda vs. direita" para subir a temperatura de alguns seguidores mais difíceis de convencer, a verdade é que os dois partidos uma vez chegados ao poder, os seus mandatos acabam por se caracterizar por uma imensa mancha cinzenta na qual as consequências para a generalidade dos eleitores são indiferentes.

Na verdade, o PSD se no passado apareceu associado a investimentos estruturais (Expo'98, Ponte Vasco da Gama, auto-estradas, IPs, etc)
o PS apareceu como um partido mais centrado em assuntos sociais. Contudo, tudo isso desapareceu. Se retirássemos o nome aos protagonistas, seria impossível distingui-los, visto que ambos acabam por ter agendas e condutas bastante semelhantes. Apesar das diferenças nominais, tanto o PS como o PSD andam a reboque das respectivas casas-mãe sem tentarem criar uma corrente política Portuguesa suficientemente forte. Após cada um deles chegar ao poder, uma das primeiras (e únicas) modificações que tem lugar é a substituição dos boys. Os dois maiores partidos Portugueses conseguiram ao longo dos anos atrair milhares de seguidores vindos de todos os quadrantes da sociedade Portuguesa atraídos pela possibilidade de contactos e de acesso a empregos e oportunidades facilitados pela sua filiação partidária. O resultado --> uma máquina partidária pesada e tosca com demasiadas exigências internas a cumprir antes que possa satisfazer os objectivos que os seus eleitores (a grande maioria sem filiação) querem ver cumpridos.

É notável, por exemplo, a quantidade enorme de membros nas juventudes partidárias destes dois partidos, a grande maioria dos quais não se revê no partido (que afinal não tem ideologia!) e que acaba por pactuar com um autêntico regime de pseudo-elitização partidária contribuindo para a sua continuação e assim causando cada vez mais problemas ao Estado Português ao longo dos anos. Para comprovar isto, basta ver as estatísticas respeitantes ao número de pessoas a quem foram atribuídos cargos de toda a espécie na administração pública sem concurso e muito provavelmente, sem qualificações. Se há uma coisa triste de ver, é assistir a tantas pessoas da minha idade a pactuarem e a perpetuarem a existência de uma aberração de duas cabeças chamada bipartidarismo simplesmente por acharem que é "a melhor coisa a fazer".

Enquanto em Portugal estes dois partidos detiverem o monopólio alternado do poder, não podemos vislumbrar alterações de maior na conjuntura Portuguesa. Nota-se não só a falta de um partido independente com níveis de votação significativos (acima de 15%) como de organizações e grupos de pressão da sociedade civil independentes (muito importante!) que pressionem os partidos do poder a alterarem a sua agenda em prol do eleitorado Português.

1.7.04

Incertezas&encruzilhadas...

Cá estou!
Como as férias já começaram agora estou muito mais liberto!
E eis que temos a surpresa de ver o PM Português convidado para presidir à Comissão Europeia e a aceitar o cargo.
Depois de várias hipóteses, entre as quais António Vitorino, Chris Patten e o PM Belga, Guy Verhofstaedt, subitamente surgiu o convite a Durão Barroso.

De acordo com as fontes da UE, a figura de Durão Barroso era apontada como a mais consensual por se tratar de um chefe de governo (condição relevante para o cargo) de um país pequeno (mais outra condição relevante) e de assumir uma posição moderada em assuntos políticos, quer no que diz respeito a temas relacionados com ideologia partidária, quer nos assuntos internacionais. Os anteriores candidatos apresentavam demasiados oponentes que lhes apontavam pesados argumentos contra, como por exemplo, falta de Europeísmo e a proveniência de um Estado demasiado próximo dos EUA não integrado na Zona Euro (Chris Patten, o último governador Britânico de Hong Kong), federalismo excessivo e demasiado próximo do eixo Paris-Berlim (Guy Verhofstaedt) ou falta de experiência de chefia de um executivo e família política (António Vitorino).

O convite se por um lado é honroso e reconhece as qualidades que apontei ao PM Português, pode levantar algumas dúvidas, nomeadamente se a escolha de um político de um país pequeno sem grande relevância no panorama Europeu não terá sido a "menos má" de todas as hipóteses, ou seja, alguém que será um Presidente de Comissão bastante brando, facilmente instrumentalizado pelos grupos de pressão mais poderosos. Quanto a isso, apenas podemos especular.

O mais problemático é a situação que isso deixa em Portugal. O actual governo foi eleito nas eleições legislativas de 2002 e deparou-se desde o início do seu mandato com a iminência de uma crise que se preparava para se instalar no país a qualquer momento, cujos indícios já eram notáveis em 2001. As medidas de austeridade tomadas pelo executivo foram marcadas por uma grande impopularidade, como é óbvio quando se tratam de medidas destinadas a combater uma crise deste género.
A recessão instalou-se no país, o desemprego aumentou devido aos despedimentos e falências de empresas e o consumo retraíu-se em consequência da perda do poder de compra, acompanhado por uma quebra da confiância dos consumidores. Ao mesmo tempo que o governo anunciava as medidas como absolutamente necessárias e sempre que possível, refugiava-se na responsabilidade do anterior governo, culpando-o por basicamente tudo o que se passava e fazendo papel de vítima, a oposição atacava as medidas do governo e instrumentalizava a opinião pública, através da repulsa por qualquer medida que tivesse origem no governo, mesmo se o anterior executivo tivesse feito a mesma coisa. Notório o caso da guerra do Iraque, em que a oposição em peso protestou energicamente contra o apoio do governo Português à acção desencadeada pela coligação Anglo-Americana mas cujo rosto mais influente, o PS, apoiou igualmente uma acção militar contra um Estado soberano em 1999. Obviamente que há cinco anos atrás Portugal tinha a obrigação de cumprir os seus compromissos para com a Aliança Atlântica, mas a legitimidade da acção foi sempre posta em causa. Contudo, o governo PS da altura colocou-se ao lado da NATO, situação análoga à que se viveu em 2003 na qual Portugal pouco mais fez do que cumprir um compromisso para com os seus aliados.

Voltando à situação dentro das fronteiras do Estado Português, as crises são cíclicas e impossíveis de evitar em Estados democráticos com um regime de livre economia de mercado. São possíveis de atenuar e até de adiar mas de evitar, é pura e simplesmente impossível. Contudo, a opinião pública é um factor essencial e ao fim de 2 anos de governo PSD-CDS, a popularidade do executivo atingiu o ponto mais baixo, como foi comprovado recentemente não só pelos resultados das eleições Europeias mas por uma sondagem divulgada pouco depois do acto eleitoral, que apontava para uma vantagem de 15% do PS sobre a coligação governamental.

Obviamente que perante a saída de Durão Barroso para Presidente da Comissão Europeia, o PS exige eleições antecipadas, aproveitando o momento e a oportunidade única de alcançar uma maioria absoluta na AR e substituir os milhares de boys PSD-CDS pelos boys do Largo do Rato. No ponto em que nos encontramos é praticamente impossível a popularidade do governo cair mais, ao mesmo tempo que os indicadores apontam para o início da recuperação ainda durante este ano, prevendo-se um pequeno aumento do PIB em 2004 e um aumento credível em 2005, lançando assim um período mais favorável para a economia Portuguesa. Por isso mesmo, o governo dificilmente terá mais medidas altamente impopulares a adoptar, contudo o eleitorado ainda não se aparecebu disto. É por este motivo crucial para o PS que se realizem eleições antecipadas nos próximos 2-3 meses antes que sejam visíveis índices da recuperação económica, para evitar que a opinião pública mude de visão e resolva premiar o executivo com um novo mandato nas eleições legislativas de 2006.

Antendendo a tudo isto, as eleições antecipadas que dariam uma vitória esmagadora ao PS iriam abrir caminho para a tomada de medidas populistas por parte de um executivo liderado, talvez por Ferro Rodrigues ou talvez não, que assim emergeria à face da opinião pública como o governo que salvou Portugal da crise (e sem intenção acabariam por estabelecer uma analogia com o Estado Novo, que ironia!Tudo pela Nação, nada contra a Nação!) e como responsável da recuperação, ficando o executivo PSD-CDS visto como uma mancha na História recente Portuguesa e como o governo que lançou Portugal na maior recessão dos últimos anos.

Se a popularidade do executivo fosse o oposto daquilo que é hoje, o PS provavelmente nunca se atreveria a pedir eleições antecipadas. Contudo, este partido socialista difere do resto dos partidos da oposição com assento parlamentar ao defender e apoiar a ida de Durão Barroso para a Comissão, acto que é atacado pelo PCP e BE e acusado de irresponsabilidade e de quebra de compromisso. No entanto, estes dois partidos acabam por pedir também eles eleições antecipadas, apesar de estarem completamente contra o factor que está na origem da convocação de um novo acto eleitoral.

O que nos leva mais uma vez ao núcleo da questão, pelo menos do meu ponto de vista: como resolver o problema resultante da sucessão? A oposição exige eleições antecipadas, ao passo que a posição do governo passa pela eleição de um novo presidente do partido (Santana Lopes foi hoje eleito para o posto) e posterior confirmação de um novo executivo liderado pelo dito número um do PSD, por parte do Presidente da República. O PR vê-se assim confrontado com aquilo que será provavelmente a decisão mais difícil desde que foi empossado. Por um lado, em nome da estabilidade política, a decisão mais lógica a tomar seria a de aceitar o novo (talvez nem tanto...) executivo liderado por Santana Lopes enquanto que do ponto de vista processual e para dar uma aparência plenamente democrática, a decisão seria convocar eleições antecipadas. Contudo, como já disse, eleições antecipadas significam concerteza uma maioria absoluta do PS o que provavelmente resultaria numa mudança aparente da agenda política em vários sectores mas cujos benefícios iriam à mesma recair sobre milhares de boys que iriam alternar com os actuais beneficiários do PSD-CDS. Ou seja, iria prejudicar a estabilidade do país.

Quanto às acusações de fuga dirigidas ao PM, eu refuto-as com base nos argumentos acima indicados. A popularidade bateu no fundo, ou seja, a partir daqui só pode aumentar e o grande cavalo de batalha do PSD a partir daqui será a recuperação da economia Portuguesa, por isso não faz sentido que Durão Barroso queira abandonar o navio nesta altura. A UE não é nenhum exílio para políticos indesejados nem é nenhum poleiro para políticos gastos e que já não oferecem surpresas a ninguém no seu país, embora Mário Soares tenha tentado ser eleito Presidente do Parlamento Europeu. A UE representa não só o passado recente mas também o presente e o futuro de Portugal e dos seus parceiros Europeus. O convite para Presidente da Comissão, sejam quais forem as motivações, constitui uma oportunidade única de transpôr os limites impostos pela exiguidade das fronteiras estatais (e no caso Português elas são mesmo muito exíguas sob todos os pontos de vista) e acusar um político de se refugiar no cargo de Presidente da Comissão Europeia torna plausível a hipótese de colocar a quem o acusa de fuga a seguinte questão "Mas por acaso sabe que Portugal é membro da UE?". 50% ou até mais das leis em vigor no Estado Português têm origem na União Europeia. A estreita interdependência entre os Estados dentro da organização significa que as barreiras são cada vez mais ténues e que a dinâmica resultante da interacção entre os 25 Estados membros torna possível que o benefício de um seja o benefício de todos ao nível das grandes decisões, aplicando-se devidamente a subsidariedade às questões em causa.

O cargo de Presidente da Comissão torna ainda possível para quem o exerce de por em prática uma agenda que seria impossível de realizar na política interna do seu Estado, abrindo assim caminho para uma estratégia de alcance verdadeiramente global, ou não seria a UE o maior e mais poderoso bloco comercial do mundo, com Estados bastante influentes dentro de si, entre os quais dois membros do Conselho de Segurança da ONU e quatro membros do G8 e dando assim a possibilidade ao órgão comunitário de tomar parte na fixação de decisões na agenda internacional juntamente com outras potências, como os EUA, o Japão ou a China.

Quanto às pessoas que simplesmente usam o argumento de que Durão Barroso vai ganhar cerca de cinco vezes mais o que já ganha como PM, isso não tem razão de ser, afinal qualquer chefe de governo após o final da sua legislatura - e se não tiver em mente uma candidatura num acto eleitoral próximo - rapidamente recebe uma oferta para um cargo cujo vencimento é estupendamente elevado e no qual tem bastantes menos responsabilidades do que no órgão executivo comunitário que representa mais de 425 milhões de cidadãos Europeus.

A solução mais indicada? Qualquer delas tem as suas vantagens e desvantagens, apenas a tomada da decisão e as suas consequências vão revelar se de facto foi a mais apropriada para o Estado Português ou não. Afinal, uma má decisão política no âmbito do Estado Português terá também consequências ao nível da UE.

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